quarta-feira, abril 27, 2005

Ambiente e Futuro

Apelo ao (pelo) Futuro

Seria por aqui que deveria ter iniciado a minha participação neste "blog": As questões ambientais e o Futuro.
Parece-me que mesmo os que acham (legitimamente) que não está demonstrada cientificamente a relação causa-efeito entre a acção humana e as alterações ambientais e climáticas, ou sequer que haja qualquer alteração deste tipo, poderão reconhecer que, havendo a suspeição e a simples possibilidade de tal se verificar, seria demasiado desumano (no sentido de não utilizar a inteligência) que tornássemos irreversíveis consequências tão graves, por simples omissão ou desleixo.

O auxílio dos Dinossauros
Em trocas recentes com dois grupos de amigos, recorri a uma "estória" que me foi dada a conhecer, há bem uns vinte anos, pelo Prof. Rui Godinho.
Com as limitações próprias do tempo decorrido, grosso modo, o episódio consistia numa discussão entre dois académicos Norte-americanos, em que um defendia que a Natureza assimilava as "tropelias"/malfeitorias humanas e o outro defendia que, sendo verdade que as "digeria", receava que não conseguisse fazê-lo a todas, em simultâneo e em número crescente.
A troca de argumentos terá terminado com a seguinte imagem: Provavelmente há uns milhões de anos atrás, dois dinossauros estavam aqui a discutir se a natureza se regenerava ou não e concluíram os dois, satisfeitos, que sim! O que se esqueceram foi de se questionar se os dinossauros seriam integrados nessas alterações da natureza.

Consensualizemos a adopção do Princípio da Precaução
Não é ainda consensual entre técnicos e académicos que esteja demonstrada a relação causa-efeito entre as actividades humanas e as alterações climáticas.
Sendo uma matéria muito interessante do ponto de vista do aprofundamento técnico e académico, tal não pode servir para adiar mais a adopção do princípio da precaução.
Se sabemos que há actividades que libertam gases ou elementos que provocam reacções que representam uma alteração das condições de equilíbrio ambiental;
Se sabemos que a destruição ou mudanças de características de determinados espaços se repercutem em cadeia, na maioria das vezes muito para além da nossa percepção e conhecimento;
Se sabemos que muitas dessas alterações terão impactos por demasiados anos (muito para além da escala de vida humana) e que a reposição da situação anterior é impossível ou demorará também demasiado tempo;
Se sabemos e verificamos que há um aumento, em muitos casos significativo, de doenças e impactos negativos ao nível da saúde e da qualidade de vida (alergias, doenças respiratórias, etc.) – há três/quatro anos um relatório Europeu de saúde revelava que as urgências pediátricas do foro respiratório tinham registado um aumento de 30% na última década;
Se conhecemos que há determinados ambientes – em sentido lato, com todos os seus constituintes – onde há maior incidência de impactos negativos ao nível da saúde e bem-estar (minimizando esta observação à perspectiva da supremacia do interesse humano, que sendo duvidoso é mais consensual);
Então, será que só depois de demonstrado que foi cada específica acção humana, e só ela (que jamais a natureza por si só produziria igual efeito), é que deixaremos de actuar como actuamos?
Em suma, é provavelmente verdade que não podemos afirmar que não haveria alterações climáticas sem a presença humana, mas sabendo que a actividade humana produz resíduos que são nefastos à saúde e qualidade de vida e que contribuem activamente para mudanças ambientais, então, desse ponto de vista, temos que adoptar o Princípio da Precaução, reduzindo-os ao mínimo possível – sem perda de qualidade de vida, enquanto é possível.
Mas, se temos DÚVIDAS, e temos, então impõe-se o Princípio da Precaução. Não podemos continuar a actuar como se tivéssemos a CERTEZA de que a acção humana não é relevante para o futuro.

Apelo às partes
Este facto tem que assumir urgentemente expressão a dois níveis: o individual/doméstico e o colectivo/institucional.
Não podemos continuar a apresentar indicadores ridículos de re-utilização dos bens e de separação do lixo para reciclagem. Não podemos continuar a desleixar a adopção e implementação de soluções que representem uma redução de consumos energéticos e da água.
Mas também não podemos tolerar mais a passividade dos responsáveis públicos e das empresas e organismos colectivos na adopção de medidas sistemáticas de eliminação de soluções consumidoras de recursos.
Às medidas estruturantes que se impõem, responde-se tradicionalmente com soluções assentes em três características:
ü A política de preços – os governantes parece estarem convencidos de que esta seja a única ferramenta capaz de induzir comportamentos e gerir o interesse público;
ü As medidas recaírem prioritariamente sobre terceiros – todos parecemos estar convencidos de que as causas dos problemas e assim as soluções dependem dos outros e não de nós – os exemplos são infinitos;
ü Pedir apoios (ou medidas de excepção) é mais fácil que adoptar medidas – não me lembro, e tenho feito um esforço por encontrar, de nenhum sector económico que não seja beneficiário de medidas de apoio activo ou pelo menos de isenção de obrigações e deveres, independentemente de estar sequer próximo de uma situação de máxima eficiência.
Mas cada uma destas três características pode e deve ser objecto de maior aprofundamento… a tempo! Que hoje, o momento é de apelo para que não comprometamos o futuro e a viabilidade da vida humana com dignidade.
O apelo é para que sejamos parte da solução. Que contribuamos para o fim deste concurso de recordes que todos os dias marca os serviços noticiosos: Há 400 anos que em Portugal não havia uma seca destas; Há dezenas de anos que não se verificavam temperaturas tão baixas na Roménia; Não há registos desta intensidade de velocidade dos ventos na América Central; Não há memória de cheias em Agosto no centro da Europa, etc., etc.…

António Sérgio Manso Pinheiro,
Abril de 2005

1 Comments:

Blogger Ant.º das Neves Castanho said...

Plenamente de acordo!

Ao nível individual, a grande aposta, quanto a mim, deveria ser na educação e formação. Algo terá já sido feito, não duvido, mas muito, mesmo muito, faltará ainda fazer, sobretudo nos meios sociais menos influenciados pela Educação formal (os pobres, os excluídos, os incultos).

Há pois que sensibilizar todos os sectores, grupos e níveis da Sociedade para contribuirem INDIVIDUALMENTE, para que possa haver uma esperança de resolução do problema.

Penso mesmo que deveria ser posta em acção uma grande campanha de educação e intervenção ambiental, ao nível de uma espécie de Serviço Cívico, que por exemplo fosse alternativo ao cumprimento do Serviço Militar (que eu acho deveria ser) Obrigatório, ou que proporcionasse vantagens a quem o frequentasse, por exemplo dias adicionais de férias, vantagens fiscais, ou outras, a estudar devidamente.

Quanto ao chamdo nível colectivo e institucional, bem, aí dou a palavra aos especialistas e aos detentores do poder político: falem e ajam, URGENTEMENTE, antes que soframos as inexoráveis consequências no nosso magro bolso de portugueses (o "Protocolo de Quioto", pois claro...)!

6:59 da tarde  

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