sexta-feira, junho 20, 2008

A Selecção e a poesia de Sá-Carneiro...

... ou o futebol para além do jornalismo "desportivo"...


AFINAL, NÃO APRENDEMOS NADA COM O EURO/2004!


E também pouco ou nada aprendemos com o Alemanha/2006!...


A diferença para o último “Mundial” foi que, desta vez, perdemos com os alemães “apenas” por 3-2 (e o Schweinsteiger só marcou uma vez…). Talvez para a próxima consigamos, enfim, um empatezito a três…


A lição, bem mais importante, que não aprendemos nem com o “Europeu” das bandeirinhas à janela, perdido em casa, na Final, contra uma selecção banal, sem vedetas, nem quaisquer pergaminhos à altura, como a Grécia, é que
NÃO SÃO AS VEDETAS, OU O VEDETISMO, QUE FAZEM AS VITÓRIAS!


Todavia, em vez de contribuir honestamente para acordar de vez o País para esta e muitas outras verdades dolorosas àcerca da Selecção portuguesa, o que é que a nossa comunicação social desportiva desta manhã tinha para noticiar, logo após a referência à nossa derrota? Que o menino Cristiano R. talvez vá para o Real Madrid!!!! Sintomático...


E isto acontece porquê? Se calhar porque, efectivamente, a maioria dos consumidores de notícias desportivas até prefere assobiar para o lado e, assim, tentar apagar rápidamente a profunda mágoa sofrida ontem pelos portugueses com o inconcebível e definitivo desastre da “nossa” selecção, mergulhando de novo nas costumeiras, bizarras e ABSOLUTAMENTE INÚTEIS peripécias da vida desportiva, ou melhor, profissional e “social” das ilustres personalidades futebolísticas que “fazem a notícia”, para gáudio de quem tem de continuar, apesar de todas as decepções e derrotas, a vender papel impresso com seja lá o que for, a ter de enfrentar de uma vez, corajosamente, as múltiplas causas de toda esta inultrapassável “maldição” de continuarmos a ser, em boa verdade, nada mais do que uns PERDEDORES NATOS, naquele sentido muuito pejorativo que os anglo-saxónicos imprimem à palavra “LOSERS”!!


Não tenho tempo, nem vocação, para proceder a uma análise objectiva, racional e construtiva dos evidentes males do futebol português em geral e desta selecção em particular. Sou apenas um amante deste fabuloso espectáculo, sem quaisquer interesses materiais no mesmo, e a única coisa de que me sinto “culpado” é de, desta vez, ter acreditado que Portugal poderia fazer melhor figura do que nos últimos dois campeonatos acima mencionados.


Mas ontem percebi melhor por que é que uma selecção mediana, como é afinal a alemã, conseguiu em poucos minutos destroçar todo o enorme potencial do conjunto português com a aparente simplicidade de quem abre uma garrafa ou uma lata de cerveja, da boa claro, alemã. E causa-me profunda repulsa constatar que nos deixamos menosprezar e bater sem reacção, reacção sobretudo para nós próprios, para que possamos evoluir e aprender com as adversidades. Como os outros demonstram conseguir (e não é apenas no futebol, mas adiante…). Vejamos:


1º – Portugal entrou em campo visivelmente desconcentrado, desorientado e amedrontado, sentindo enormemente o peso da responsabilidade (inédita!) do seu favoritismo e nunca soube ultrapassar as dificuldades que os adversários conseguiram, apesar dos seus “limitados” recursos, criar-lhe. Conclusão: a nossa FAMOSA preparação psicológica não resistiu às primeiras pressões a sério e estalou, como vidro de má qualidade, ao primeiro “choque”, o golo inicial. Nunca mais existiu aquela equipa sólida, determinada e avassaladora dos dois primeiros jogos, provando-se que de nada serve uma equipa recheada de talentos individuais, se estes não estiverem convenientemente “cimentados”, a nível táctico e, sobretudo, a nível anímico. Depois, quando se começa a pressentir o desastre, começa a sentir-se aquele “frio” e percorrer a boca do estômago e, sensação pior de todas, temos logo ali a certeza de que será impossível virar o rumo dos acontecimentos e não há mais nada a fazer senão rendermo-nos à evidência: NÃO TEMOS NERVOS DE CAMPEÕES!


2º – A selecção portuguesa, incensada e sobre-avaliada enquanto isso nos fazia, estupidamente (e sem base factual), inchar o “ego”, revelou-nos ontem as suas mais candentes debilidades técnicas: alguns elementos titulares, pura e simplesmente, não estavam sequer à altura – com especial destaque para Ricardo e Paulo Ferreira, aliás, mais duas inconcebíveis teimosias do seleccionador! –, o “banco” não serviu positivamente para NADA – qualquer substituição provocava a IMEDIATA DERROCADA do estilo de jogo do onze titular, como se provou após as saídas dos insubstituíveis João Moutinho e Nuno Gomes, à excepção talvez de Miguel e, eventualmente, de Quaresma (que poderia ter sido muito mais útil do que, por exemplo, Simão) e, evidentemente, de… Maniche (que tanta falta nos fez…). Conclusão: NO MEIO DE TANTAS "CELEBRIDADES" MEDIÁTICAS, NEM ONZE TÍNHAMOS DE JEITO PARA PÔR A JOGAR!!


3º – Os nossos comentadores desportivos, tão ciosos de manterem uma “unanimidade patriótica” para dizerem apenas o que não possa causar danos à selecção, levam essa sua atitude a um extremo de acriticismo e “debilidade mental” que, por sua vez, em nada contribui para o diagnóstico dos MALES ESTRUTURAIS que, ano após ano, arrastam os apreciadores de futebol lusos para esperanças desproporcionadas face às reais possibilidades das nossas participações em provas internacionais, tomando como “vitórias” alguns bons resultados recentes, criando a ilusão de que o sucesso é possível “para a próxima”, mas impedindo a livre discussão desses males que, por serem convenientemente escondidos, continuam há décadas por atacar e resolver. Conclusão: muita da culpa da derrota de ontem jaz num certo tipo de análise e comentarismo desportivos, que se limita a debitar louvores antecipados e a esconder as raízes dos maus resultados, lamentando-se pateticamente com a “sorte”, as “vitórias morais”, ou os índices das “estatísticas do jogo” (golos à parte…) para se desculparem, a posteriori, daquilo sobre que não sabem, ou não querem, reflectir. Frases como “vá lá Portugal, ainda faltam três minutos, foi o tempo de que a Turquia necessitou para virar o resultado com a Rep. Checa!” são pungentes, patéticas e mesmo inadmissíveis, para quem está a presenciar os acontecimentos e tem capacidade para perceber, com objectividade, até que ponto tudo aquilo não passa de conversa fiada…


4º – Scolari vai-se embora. Já devia ter ido em 2006, como é ÓBVIO. Não deixa quaisquer saudades. Apenas a amarga recordação daquele célebre poema de Mário de Sá-Carneiro: “Quase”. Que, numa “simples” palavra, resume TODO O SEU PERCURSO aos "comandos" da selecção de Portugal! Até nunca mais, senhor L. Filipe!


E agora? O futuro, claro: primeiro, já se sabe que não iremos aos Jogos Olímpicos. Ninguém lamenta, mas é pena. Pois vai tudo ter de recomeçar novamente do zero, isto é, das ditas “camadas jovens”. A propósito, muito a propósito, a saída de Scolari é um óptimo pretexto para nos lembrarmos, sim, mas de quem continua a ser o único que fez alguma coisa de sério pelo Futebol em Portugal e que, “por acaso”, continua a ser o único a poder gabar-se de nos ter feito CAMPEÕES e, por sinal até, do MUNDO: um Senhor Professor, competente mas modesto, chamado… CARLOS QUEIRÓS.