sexta-feira, junho 09, 2006

A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II

Na sequência do primeiro comentário (NOTA: no blogue "Regionalização" - www.regioes.blogspot.com) ao anterior artigo sobre este tema, volto ao assunto para esclarecer e desenvolver algumas ideias eventualmente menos bem apresentadas.

Porque se o objectivo não será concerteza dividir, mas sim unir, isso também não significa que tenhamos todos forçosamente que partilhar as mesmas ideias. O importante são, a meu ver, os princípios programáticos, os objectivos e, a seu tempo, a unidade na acção. Mas sem prejuízo da liberdade de pensamento individual de cada um…

Parece-me de salientar à partida que, na análise que apresentei sobre a configuração geográfica que defendo para uma eventual «Região Administrativa da Grande Lisboa» (o nome não é relevante), todas as minhas considerações partem de análises empíricas e assentam unicamente sobre critérios de racionalidade e eficácia da Administração Autárquica, não lhes estando subjacentes quaisquer análises de carácter “político” ou, muito menos, eleitoral no que toca às actuais representações partidárias nos Concelhos envolvidos.

Considero aliás que de nada adianta pensar as reformas administrativas sob este prisma redutor. Para isso já temos a comunicação social, que nos inunda permanentemente com esse tipo de abordagens e “cenários”, numa perspectiva quase sempre demasiado superficial e “clubística”…

A mim interessam-me unicamente as questões técnicas e funcionais, que são as que no fundo dizem directamente respeito aos anseios dos Cidadãos contribuintes (e que são, paradoxalmente ou talvez não, as de que menos se fala e ouve falar…)!

Voltando à matéria: Mafra, Azambuja, parte de Vila Franca de Xira, Moita, Montijo e Alcochete de fora da Grande Lisboa (e integrados na Região da Estremadura/Ribatejo), porquê?

Por diversas razões, que só estudos técnicos mais aprofundados permitirão explicitar, mas acima de tudo e desde já porque me parece vantajoso preservar estes Municípios (pelo menos durante mais algumas décadas…) da terrível pressão da “betonização”, salvaguardando o seu carácter natural e ecológico em detrimento do avanço, em mancha de óleo, do subúrbio igualizador e incaracterístico que engole furiosamente os arredores de Lisboa.

Há evidentes vantagens socio-económicas e ambientais, aliás para toda a Região, em impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica, da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio! Para além dos benefícios económicos decorrentes de se assegurar a sobrevivência da identidade própria e das actividades tradicionais, em especial a agricultura, condição indispensável para a qualificação, por exemplo, da oferta turística da periferia de Lisboa (quantas pessoas vão visitar Mira Sintra, a Rebelva, ou Unhos? E quantas se deslocam ao Sobreiro, à Ericeira, ou à noite de touros da Azambuja, por exemplo?...).

Mais importante ainda: se não estancarmos urgentemente o crescimento urbano e populacional (tantas vezes caótico e não sustentável) das duas metrópoles portuguesas, como vamos evitar a desertificação do interior? A relação de causa-efeito entre estes dois fenómenos parece-me insofismável...

Para além de que, no tecido urbano dito consolidado da A. M. L., sobra muito para intervir (e recuperar…) no sentido de assegurar a produção de áreas de construção mais do que suficientes para responder a uma procura razoável e balizada por critérios de sustentabilidade.

Quanto a Setúbal, Sesimbra e Palmela, a argumentação é obviamente semelhante, vendo eu estes Concelhos muito mais como uma “Sub-região da Arrábida”, ou da Estremadura-Sul, pelas suas características tanto naturais como de ocupação humana, do que como um prolongamento contínuo de Lisboa até ao Estuário do Sado. Até porque me parece inglório sacrificar uma certa identidade sadina a uma ideia artificial, tecnocrática e quanto a mim desmesurada do que deve ser a metrópole lisboeta.

Ainda que esta “Sub-região” pudesse ter de ficar (o que nem seria o caso) fisicamente separada do restante território da sua Região da Estremadura/Ribatejo (o que, como se sabe, é algo que acontece em muitos dos Concelhos portugueses, como por exemplo o do Montijo…), a sua problemática continuaria a parecer-me mais identificada com a desta Região Administrativa do que propriamente com a de Lisboa, pelo que teria toda a vantagem em realçar este seu carácter regional e a sua identidade própria, contribuindo para as decisões estratégicas de todo o Vale do Tejo e Oeste.

Finalmente, quanto ao “desmembramento” de alguns Concelhos, como Almada, Cascais, Loures, Oeiras, Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira, parece-me francamente vantajoso que, uma vez extintas as Freguesias da A. M. L. e transferidas as suas competências para os novos Municípios Metropolitanos, estes vissem as suas áreas e populações reduzidas, para compensar a consequente diminuição do factor “proximidade” dos autarcas relativamente às realidades e respectivas populações.

Até porque os Concelhos Metropolitanos também veriam algumas das suas competências de ordem “superior” transferidas para a Administração Regional, a par das que seriam oriundas da Administração Central.

Para além do mais, o recente crescimento “tumoral” de alguns dos Municípios da A. M. L. só por si conduzirá, a mais ou menos breve prazo, à sub-divisão de alguns deles, a começar obviamente pelo de Sintra (e à semelhança do que já sucedeu com Oeiras e a Amadora, ou mais recentemente com Loures e Odivelas), dada a heterogeneidade de características, a todos os níveis, que os notabilizam e que está a atingir níveis insustentáveis.

Tudo isto possui, evidentemente, uma lógica global e não deve ser entendido como um conjunto de propostas avulsas e desarticuladas, válidas de per si.

Mais admito que tudo mereça ainda o devido aprofundamento e a indispensável sustentação em análises técnicas, económicas e sociológicas, mas que não sejam meramente “politico-eleitorais”…

Ant.º das Neves Castanho, Lisboa Oriental…

segunda-feira, junho 05, 2006

A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-I

(NOTA: revisto a 9-Junho-2006)
E se ela já estivesse mesmo “instituída em concreto”?

Eis como eu imagino (e desejo...) que as coisas se passariam.


I – Enquadramento

1ª hipótese – seria uma Região Administrativa como qualquer outra;

2ª hipótese – seria uma Região Administrativa especial, com algumas diferenças relativamente às outras (mas igual à Região do Grande Porto), de modo a adequar o seu funcionamento às suas características vincadamente “metropolitanas”;

3ª hipótese – poderia ainda ser apenas uma macro-autarquia dentro da Região Administrativa da Estremadura e Ribatejo (ou Vale do Tejo e Oeste), assim como então o Grande Porto o seria também dentro duma Região Norte.

Para o tema de hoje vou tomar estas alternativas como indiferentes, para simplificação.


II – Limites

Admitindo como traço distintivo desta Região o seu carácter de grande urbe cosmopolita, parece-me pacífico que os seus limites geográficos deveriam coincidir com os da actualmente designada “Área Metropolitana de Lisboa”, mas subtraindo os Concelhos de Mafra, Azambuja, Vila Franca de Xira (excepto Alverca e Alhandra), Moita, Montijo e Alcochete (sim, apesar da nova ponte…). Para outra altura reservo a discussão sobre se também Sesimbra, Setúbal e Palmela não deveriam integrar-se na Região Estremadura-Ribatejo…


III – Sub-divisões administrativas: Concelhos Metropolitanos

Partindo do princípio que seriam totalmente extintas as actuais Freguesias da A. M. L. e integradas as respectivas competências nos novos Concelhos Metropolitanos a criar, proponho a seguinte re-estruturação municipal para a Região da Grande Lisboa, tal como definida:

- Lisboa Histórica (coroa central)
- Lisboa Oriental (para Leste do Vale Escuro)
- Lisboa Ocidental (para Oeste do Rio Seco)
- Lisboa Setentrional (acima da Segunda Circular)
- Vale do Trancão (Sacavém, Camarate, Bobadela, Santa Iria da Azoia, Portela, Moscavide e «Parque das Nações»-Leste)
- Odivelas (incluindo Santo Ant.º dos Cavaleiros)
- Loures (território sobrante)
- Alverca/Alhandra
- Amadora/Queluz (incluindo Belas, Tercena e Queluz de Baixo)
- Vale do Jamor (Alfragide, Carnaxide/Outurela, Linda-a-Velha, Cruz Quebrada/Dafundo, Algés/Miraflores, Queijas e Valejas)
- Oeiras (território sobrante)
- Carcavelos/Parede
- Cascais (território sobrante)
- Cacém/Massamá
- Algueirão/Mem Martins
- Sintra (território sobrante)
- Almada-Caparica
- Seixal (território sobrante)
- Corroios
- Barreiro.


IV – Competências

Saúde (cuidados primários), Espaço público, Ambiente, Abastecimento de água, Transportes e Circulação, Urbanismo, Educação Pré-primária, Turismo, Actividades económicas, Ordenamento do Território, Cultura e Desporto, Mercados, Espectáculos, Acção Social, Segurança Pública (Polícias Regional e Turística, em vez das Municipais), Cemitérios.
V - Linhas de actuação

Neste enquadramento, eu advogaria já, para a primeira campanha eleitoral regional, a eleição dos seguintes temas como PRIORIDADES essenciais:

1º - Florestação do actual Aeroporto de Lisboa (se e quando fosse desactivado), à semelhança do que, na sua origem, foi o Parque de Monsanto;

2º - Conclusão do fecho da C. R. I. L. (e sua desclassificação para a futura Rede Viária Regional);

3º - Integração do «Parque das Nações», de pleno direito, na esfera de responsabilidades dos poderes públicos autárquicos!

4º - Definição de uma posição clara e firme quanto aos temas fundamentais de negociação com o Poder Central, sobretudo no tocante ao Ordenamento do Território, a saber: estratégia para o Porto de Lisboa, traçado da Linha e Estação Terminal do futuro “TGV”, localização da terceira travessia do Tejo, arranque efectivo da Autoridade Metropolitana de Transportes (nos moldes actualmente previstos ou naqueles que se revelassem mais apropriados), programas de expansão (ou modernização) das infra-estruturas de transporte colectivo em modos pesados (rede de "metro"; ligação ferroviária para passageiros entre Alcântara-Terra e Alcântara-Mar, etc.), conclusão do Plano Rodoviário Nacional, nova Lei do Arrendamento Urbano, relocalização dos serviços do Estado (Ministérios, etc....).

Pois tudo isto (e muito, muito mais…) é reconhecidamente demasiado grande para as Autarquias da A. M. L. (individualmente ou agrupadas como Junta Metroplitana) e “pequeno” demais para as vastas competências do Governo do País!...

E o resultado é aquele que todos conhecemos! Até quando continuaremos a ter de esperar pelas soluções?...