segunda-feira, julho 10, 2006

ITÁLIA OUTRA VEZ CAMPEÃ MUNDIAL DE FUTEBOL!!!!

Num "Mundial" sem grandes vedetas, sem quaisquer novidades tecnico-tácticas, nem grandes equipas – quase me atrevo a dizer num "Mundial" sem grande Futebol! –, a Itália sagrou-se ontem pela quarta vez (só o Brasil a suplanta agora) Campeã do Mundo, título alcançado contra a nova Vice-campeã (a França) por meio de marcações de grande penalidade…

Sem história nem glória, este "Mundial" da banalidade prova que o futebol atingiu o nível superior da... estagnação, promovido que foi a grande espectáculo de massas da actualidade e a negócio de milhões.

Para a desilusão ser completa, não bastou a falta de bons jogos, de justiça final (a Itália não mostrou ser mais do que uma selecção de qualidade mediana, experiente e calculista), de verdadeiro espectáculo e emoção (tudo foi avançando num ritmo de previsibilidade, ou decepção conformada), até ao nível disciplinar tudo tinha que se estragar na Final!

Um Mundial para esquecer, uma boa oportunidade para repensar o rumo que o desporto-“Rei” está a tomar…

MERCI, M. ZIDANE!

Com a sua atitude inesperada, irreflectida e chocante, limpou a má imagem de Portugal neste Mundial, no tocante ao desportivismo, e faz até esquecer para todo o sempre o tristemente célebre João V. Pinto…

Em nome de todos nós, portugueses, MUITO OBRIGADO!

PORTUGAL NO MUNDIAL/2 006: BALANÇO FINAL

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A proeza dos “Magriços” foi quase igualada!

O Vice-campeão Europeu chega ao 4º lugar no “Mundial”!

Portugal tem orgulho na sua Selecção!

Sim, tudo isto é verdade. Mas talvez valha a pena, agora que as emoções já pertencem ao passado e a lucidez volta a poder respirar, tecer alguns comentários serenos, objectivos e ponderados à nossa participação no Mundial da Alemanha, ou melhor, à participação do nosso Futebol, que escapem aos insuportáveis lugares comuns dos especialistas da “bola”, às estéreis proclamações dos nossos ilustres políticos e comentadores de ocasião e, sobretudo, aos desbragados fanatismos do “homem da rua”…

No final: o balanço é positivo ou negativo?

Se compararmos com as nossas anteriores participações em Mundiais, concluiremos facilmente que o balanço é positivo. Mas se aferirmos pelas expectativas criadas, sobretudo após a eliminação da Holanda, já talvez tenhamos de nos ficar por um neutro “assim-assim”…

De facto, mais uma vez chegamos alto para no final cairmos: no “Euro” perdendo a Final (em casa!), contra uma selecção sem historial, agora na Alemanha perdendo os dois últimos jogos, sem apelo nem agravo.

Para quem pretenda ir além das paixões, tantas vezes mal fundamentadas, e extraír conclusões que possam trazer benefícios para o futuro, há que descolar do discurso superficial, simplista e eufórico dos meios de comunicação, que para nada serve, e fazer uma análise desapaixonada do que realmente sucedeu.

Sintetizando, direi que a Selecção portuguesa até esteve à altura do acontecimento, mostrou qualidades e valor, mas decepcionou em muitos aspectos.

Passada que fora a época das grandes exigências à “geração de ouro”, que acabou por afinal não ganhar nada mais para Portugal do que os dois Mundiais de Juniores conquistados sob o comando de Carlos Queirós, de Portugal esperava-se apenas que se afirmasse como potência mundial do futebol, defendendo o prestígio da sua condição de Vice-campeão europeu. E foi o que aconteceu.

Por isso dou os meus parabéns à Federação Portuguesa de Futebol e a toda a nossa Selecção, nomeadamente aos jogadores (e também ao treinador). Cumpriram com mérito todos os objectivos traçados, o que para Portugal já não é nada pouco…

Contudo, deveremos contentar-nos com o registo deste feito? Ou haverá mais alguma coisa a salientar?

Estou em crer que sim, há lições a apreender para além desta apreciação positiva, que permitem especular até que se poderia, eventualmente, ter ido mais além.

Assim, foram para mim mais do evidentes dois aspectos basilares em que não estivémos tão bem quanto poderíamos: o desempenho colectivo e a questão disciplinar!

Com um lote de jogadores francamente acima da média, em termos de qualidade individual, foi decepcionante constatar, durante todo o decorrer do Campeonato, que uma tal mais-valia não chegou nunca a ser adequadamente traduzida em valor colectivo! A Selecção não conseguiu de facto impor um estilo de jogo personalizado e característico, vivendo sempre muito da improvisação, da garra e dos lances individuais, para além de um notável espírito de entreajuda e um grande querer colectivo, mas que não teve correspondência em termos do chamado "fio de jogo".

Culpa de Scolari? Pois, de quem mais? Com aquele lote de jogadores, parece-me legítimo exigir muito mais enquanto equipa!… Pois a verdade é que, se ao actual seleccionador nacional se reconhecem bastas qualidades enquanto organizador, mentor dos jogadores, fonte de força anímica e até qualidades técnicas e tácticas, não deixa todavia de se manter este grande, enorme ponto de interrogação: que fariam com esta “matéria-prima” treinadores como J. Mourinho, Carlos Queirós, S. G. Eriksson, ou o próprio treinador da Grécia no Euro/2004 (Otto Rehagel)?

Para além de que ficaram ainda a pairar no ar outras questões nebulosas, em que ninguém parece atrever-se a tocar, mas que a mim soam como um ruído de fundo insuportável: porquê a insistência em jogadores claramente “desinseridos” desta equipa, como Deco, Pauleta, ou mesmo Cristiano Ronaldo? Porquê o escandaloso bloqueio a um jogador multi-facetado e experiente como Nuno Gomes?

Questões que aliás não ressaltam apenas dos resultados negativos dos dois últimos jogos, mas antes foram patentes ao longo de todo o torneio – a irrelevância da ausência de Deco para a eliminação da Holanda e da Inglaterra, o desperdício do talento individual(ista...) de C. Ronaldo em exibicionismos estéreis, a incapacidade de integrar Pauleta num esquema de jogo que comprovadamente não produz situações “mortíferas” dentro da área (única especialização deste jogador). Tudo tarefas que são da exclusiva responsabilidade do Treinador...

Mais grave ainda, o aspecto disciplinar: não fora o desvario de Zidane na Final, Portugal teria ficado para a história deste Mundial como o último País a jogador à boa velha maneira latino-americana (à excepção do Brasil): cacetada e teatro em vez de futebol! A juntar à imagem semelhante (ou até pior!) que já nos ficara colada em 2002 na Coreia! E isso é uma vergonha para o nosso meio futebolístico, a que ninguém deu o devido relevo (Portugal ficou como recordista em cartões!)...

Aqui, contudo, as culpas não serão nem exclusiva nem principalmente de L. F. Scolari, mas de tudo aquilo em que assenta o nosso futebol doméstico, nomeadamente as arbitragens, dirigismo desportivo, jornalismo, etc.…

Veja-se a exemplar diferença dos meios de comunicação de Inglaterra, que desde o início criticaram o jogo maçador e desinteressante da sua selecção, apesar de eficaz... até ao jogo com Portugal (como o nosso o foi até aos Quartos-de-Final...)!

Concluindo: Portugal tem muitas razões para festejar a sua participação neste Campeonato do Mundo, mas ainda mais razões para lamentar não termos até hoje conseguido resolver os graves problemas estruturais do nosso futebol, que continua a precisar de grandes e geniais intérpretes para se afirmar internacionalmente, ao contrário de Países como a Itália, a França, a Argentina, a Alemanha, a Inglaterra, etc., que resistem muito melhor às flutuações das “colheitas” geracionais e, continuadamente, mesmo com jogadores individualmente medianos, fazem sempre boa ou razoável figura nestas competições…

Por isso, apesar do desapontamento causado sobretudo pela nossa terceira eliminação em meias-finais contra a França, manifesto a minha satisfação pelo facto de termos de “engolir” algum triunfalismo e vaidade excessivos, face ao nosso real valor, e por não termos o infortúnio de ver o mundo do futebol lusitano exultar, imerecidamente, com feitos que poderiam toldar-nos o discernimento e premiar o que ainda continua mal no nosso futebol, apesar de felizmente já não estarmos propriamente ao nível do que se passou em Saltillo, ou na Coreia.

É que não sobram dúvidas de que para irmos mais além, se é que algum dia vamos querer viver a festa que os outros é que fazem sempre, há ainda aspectos essenciais a modificar. Nas estruturas desportivas, como é óbvio, mas igualmente nas escolas, nos meios de comunicação social, em suma, nas mentalidades.

E, enquanto o ignorarmos, ficaremos sempre aquém dos nossos desejos e potencialidades!…
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segunda-feira, julho 03, 2006

RESPOSTA 2

Sexta-feira, Junho 09, 2006
A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Há evidentes vantagens socio-económicas e ambientais, aliás para toda a Região, em impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica, da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio!», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
Em vez de estancar administrativamente o crescimento urbano e populacional, deixando por satisfazer a procura existente, por que não aumentar a oferta (sobretudo nas áreas mais próximas dos locais de trabalho)?


Até parece o “ovo de Colombo”, mas não é: trata-se efectivamente de uma das CHAVES PARA A COMPREENSÃO DO PROBLEMA (parabéns, caro comentador)!


Mas repare que, como demonstrei acima, estancar o crescimento populacional e urbano das áreas metropolitanas NÃO significa deixar de “satisfazer a procura existente” (aliás reconhecidamente mais do que satisfeita, como se sabe: Lisboa é já das Cidades europeias com maior número de fogos por habitante – somos mais ricos que a própria Alemanha???!!).

Por outro lado, “aumentar a oferta nas áreas mais próximas dos locais de trabalho” significa, precisamente, RECUPERAR O PARQUE HABITACIONAL DA CIDADE DE LISBOA, onde se localizam mais de metade dos empregos de toda a A. M. L. (e isto só na Coroa entre o Tejo e o arco Pç. Espanha-Entrecampos)!!

Mas não é nada disto que tem sido feito e sim uma autêntica pulverização dos habitantes por “urbanizações” cada vez mais longínquas e afastadas dos seus locais de trabalho, que desde Sesimbra a Sul já chega a Norte a Benavente e até Torres Vedras!...

Sem quaisquer vantagens para a diminuição da distância aos empregos, porque a mobilidade laboral tem crescido muito mais do que a mobilidade habitacional, por razões que se prendem, por um lado, com a crescente precarização dos vínculos de trabalho, a todos os níveis sociais, e por outro com a rigidez das leis e os valores das taxas que regem e oneram a transmissão de propriedade imobiliária e, sobretudo, o arrendamento urbano!


Isto porque:
- os municípios envolventes da cidade de Lisboa (onde se localiza uma parte considerável da oferta de emprego da Região de Lisboa), não tiveram a capacidade de atrair empresas em número significativo e de lhes proporcionar condições competitivas de localização;
- muitas empresas, por razões culturais e de status social, continuam a preferir exibir uma morada de Lisboa como sede social.


Aqui reside de facto o fulcro do problema (e o erro de análise do comentador!): apesar de em alguns Concelhos da A. M. L. se ter tentado, com maior ou menor sucesso, contrariar esta tendência (vejam-se os casos significativos de Oeiras, Amadora, Loures e Sintra, por exemplo), tal não se traduziu, ao contrário do “esperado”, numa maior proximidade entre habitação e local de emprego, infelizmente, e isto porque precisamente não é nada fácil mudar de casa ao ritmo com que, de há uns anos a esta parte, se muda de emprego!

Resultados: cada vez se tornou mais amplo o leque de pares casa-trabalho, ou seja, aumentou ainda mais a distância média das deslocações diárias (ou pendulares), deteriorando os níveis de eficácia dos sistemas de transporte colectivo (isto apesar dos vultuosos investimentos de que foram alvo, de rentabilidade actual mais que questionável…), e consequentemente os tempos mortos no dia-a-dia dos habitantes, já para não falar nos custos associados, dispêndios de energia “inúteis”, desempenho ambiental, custos indirectos e “invisíveis” (seguros automóveis, vítimas de acidentes de viação, dias de “baixa” por incapacidade, etc., etc….)!

Tudo porque de cada vez que se criam postos de trabalho na periferia de Lisboa, por exemplo abre um Parque Tecnológico, ou uma Zona Industrial, se deslocam para lá trabalhar pessoas oriundas de uma ponta à outra da A. M. L., amarradas que estão à compra da sua “casita” em Santo Ant.º dos Cavaleiros, ou em Corroios, ou em S. João da Talha, etc., e sem possibilidade económica para estar permanentemente a mudar de habitação PRÓPRIA, ou sequer alternativa para arrendar um apartamento num local mais conveniente.

Por tudo isto cheguei à triste conclusão de que os problemas de tráfego e transportes na A. M. L. nunca serão resolvidos pelos especialistas na matéria, pelo menos enquanto se não perceber que a sua solução não passa pelo aumento ou beneficiação das infra-estruturas e sistemas próprios deste domínio, mas sim pela modificação do enquadramento legal e fiscal da transacção de habitação!

Isto para já não falar do facilitado e exageradíssimo endividamento aos Bancos, que distorce irracionalmente os preços no mercado imobiliário e baralha os dados de análise aos especialistas de todos os quadrantes!...


Se a política for a da construção em altura (simulando, por exemplo, o impacte de ter Telheiras maioritariamente com R/c + 4 em vez de R/c + 3), conseguir-se-á “impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica [pela diminuição do número e do tempo de deslocação dos veículos privados dos “commuters”], da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio”, resolvendo todos os constrangimentos assinalados com o mérito adicional de se evitar a punição administrativa da procura.

Mas o que acontece é que de cada vez que se “suspeita” que vem aí um edifício (ou conjunto de edifícios) mais alto é um “ai Jesus” com vários especialistas de cidades (cineastas, actores, músicos, professores universitários, jornalistas, psicólogos, sociólogos, historiadores, arquitectos) a darem logo uma opinião negativa (pois claro!) sobre o assunto.

Se estes especialistas mandassem nos Estados Unidos da América, uma cidade como Nova Iorque nunca teria existido! As pessoas vivem pior em Nova Iorque do que nas cidades imaginárias dos nossos especialistas de cidades? Não, vivem pior em Los Angeles, o modelo de cidade que tanto os excita!


Antes de discutir os modelos urbanísticos, haverá pois que repensar todo o modelo de desenvolvimento para a A. M. L., tendo em conta todos os condicionamentos apontados, para que as coisas não continuem a acontecer “ao acaso”, com os resultados que qualquer um pode constatar: mas será que os actuais responsáveis políticos possuem alguma noção das realidades, para além da gestão da sua “carreira” e da vida interna dos seus Partidos?...

Penso sinceramente que não, e cabe-nos a nós “ajudá-los”, elevando os níveis de exigência, a começar pela elevação da qualidade da própria discussão…

RESPOSTA 1


A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Mais importante ainda: se não estancarmos urgentemente o crescimento urbano e populacional (tantas vezes caótico e não sustentável) das duas metrópoles portuguesas, como vamos evitar a desertificação do interior? A relação de causa-efeito entre estes dois fenómenos parece-me insofismável...», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
O que é que se entende por estancar o crescimento urbano e populacional?
Será a imposição administrativa de um “black-out” ou período de carência administrativo durante o qual não são emitidas licenças de construção?

Claro que não! Como na história do copo meio vazio ou meio cheio, É PRECISAMENTE O INVERSO, senão vejamos:

CRESCIMENTO URBANO

Estancar o crescimento urbano nos moldes actuais significa apenas NÃO APROVAR MAIS URBANIZAÇÕES do que as que já estão consagradas em instrumentos legais de Planeamento, as quais, como notou já G. Ribeiro Telles, são suficientes para albergar uma população muito superior a 10 000 000 de habitantes (toda a população residente em Portugal!!!) na Região da Grande Lisboa!

Embora eu pense que, face ao verdadeiro e incomensurável ABSURDO desta situação aberrante e, seguramente, ÚNICA a nível (pelo menos) da Europa Comunitária, seria do mais basilar bom senso REDUZIR DRASTICAMENTE, em futuras revisões de Planos, nomeadamente dos PDM’s, as eufemisticamente designadas “áreas urbanizáveis” que, apesar deste seu estatuto, não tenham sido ainda objecto de qualquer aprovação administrativa (áreas, aliás, onde campeia a pura especulação fundiária!!)!

Mesmo assim sobrariam ainda, para descanso do mercado imobiliário (que naturalmente não poderia ficar suspenso até à resolução deste problema) muitas áreas com alvarás de urbanização já aprovados, ou apenas com Loteamentos aprovados, para já nem falar das licenças de edificação, que obviamente não poderiam ser derrogadas…

Mais esclarecido (e mais tranquilo…), amigo Comentador?


CRESCIMENTO POPULACIONAL

Muito mais difícil de estancar, mas sabendo-se ser INSUSTENTÁVEL o alucinante ritmo de crescimento de pelo menos alguns Concelhos, como o de Sintra, por exemplo, torna-se quanto a mim imperiosa a definição de políticas de desenvolvimento regional que, no mínimo, REDUZAM a taxa actual de migração dos “campos” para a R. G. L., de forma a não só evitar uma desertificação que pode até ser já irreversível (não há já “massa crítica” em alguns Distritos para inverter esta tendência?), como a permitir satisfazer uma das preocupações do comentário, a saber, a qualidade de vida dos habitantes da R. G. L., fortemente deteriorada pela sobrecarga actual das infra-estruturas urbanas, sobretudo as viárias, que coloca em sério risco a competitividade económica da Região (Copenhaga tem a mesma população que Lisboa e produz o triplo do PIB!!!).



Se a resposta for afirmativa a medida não atingirá os objectivos de estancamento do crescimento urbano e populacional. Com efeito, a diminuição da oferta de habitação nova não faz diminuir necessariamente o crescimento populacional. Vejamos algumas razões explicativas:

a) Um novo casal, resultante do desdobramento das famílias (por casamento ou união de facto, um dos principais “drivers” da procura no imobiliário), pode optar por ficar a viver em casa dos pais de um deles (num dos concelhos objecto do “black-out” administrativo mencionado), embora em piores condições de privacidade e de bem-estar do que teriam em casa nova no mesmo concelho;

b) Num cenário em que a população portuguesa não cresce, a nível nacional, se forem colocadas no mercado, a preços-características competitivas, as habitações devolutas (nos casos em que a sua requalificação seja economicamente viável), a procura de habitação poderia ser satisfeita com tal tipo de oferta. Resta saber se as características da habitação e do contexto urbanístico (estacionamento, rede viária, espaços públicos, equipamentos) das zonas históricas das cidades satisfazem as actuais necessidades das pessoas, ou se estaremos assim a empurrá-las – através de um cruel centralismo planificador – para uma regressão forçada dos seus níveis de bem-estar.


Argumento apenas parcialmente válido, porquanto parte do redutor princípio de que o parque habitacional devoluto em Lisboa está confinado à zona histórica da Cidade, quando se sabe (basta olhar para os anúncios das imobiliárias nas janelas, a fazer concorrência às bandeirinhas portuguesas…) que ele está disseminado por toda a zona metropolitana, de Alvalade a Benfica, dos Olivais a Telheiras, da Portela de Sacavém a Moscavide, do PARQUE DAS NAÇÕES a Alfragide!...

Et pourtant, continua a construir-se desenfreadamente nessas mesmas zonas, impermeabilizando solos, expandindo troços terminais de infra-estruturas, rapando áreas verdes ou espaços públicos, para “engorda” das “máquinas” autárquicas e sem que se note a desejada “progressão dos níveis de bem-estar”, antes muito pelo contrário…

E muito menos tal medida dará um contributo positivo para evitar a desertificação do interior, fenómeno cujas causas estão na origem (ou seja, lá, no interior). Quanto muito faria aumentar a procura de cidades no estrangeiro por parte dos portugueses que vivem no interior de Portugal e que ambicionam aceder a melhores condições de trabalho e de vida.


Claro. Será indispensável “fixar” as populações do Interior, seja nas suas localidades de origem, seja por uma expansão controlada e sustentável de pólos de desenvolvimento privilegiados (Cidades e algumas Vilas), o que sei bem não ser nada fácil.

E, já agora, os portugueses “que ambicionam aceder a melhores condições de trabalho e de vida” JÁ PROCURAM actualmente Cidades estrangeiras para morar (só para Londres emigram 5000 por MÊS!!!), mas não são os que vivem no Interior, são principalmente Licenciados, Mestres e Doutores que vivem nas grandes áreas metropolitanas!...


Apenas uma nota final. Não me parece que seja necessário estancar o crescimento urbano e populacional das duas metrópoles portuguesas. Temos é de aumentar a qualidade do governo das cidades e das áreas metropolitanas e dos decisores públicos (eleitos, nomeados e assalariados) cuja actuação tem um impacte directo sobre a vida dos cidadãos. O resto será feito pelas pessoas, pela sociedade e pelas empresas.


Pelo contrário! O “resto”, se nada for alterado (como infelizmente é o mais provável), será a mera continuação e o agravamento sem fim dos erros e dos disparates que vêem sendo cometidos de há trinta anos a esta parte, apesar do advento do Poder Local Democrático, e que estão à vista de todos, que sabem bem que só vieram morar para o Litoral porque no Interior a sua vida seria ainda pior, ou seria mesmo IMPOSSÍVEL sobreviverem (faça-se uma boa sondagem aos moradores dos subúrbios, e não só, com perguntas bem formuladas, e perceber-se-á melhor o “grau de contentamento” com a sua vida actual, face à esperança que tinham quando ainda eram “provincianos”…)!


Comentário ao Artigo anterior.

De um amigo leitor recebemos por "e-mail" o seguinte comentário, que achamos merecer publicação como novo artigo que assim, com a devida vénia e permissão do Autor, seguidamente reproduzimos.


Sexta-feira, Junho 09, 2006
A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Mais importante ainda: se não estancarmos urgentemente o crescimento urbano e populacional (tantas vezes caótico e não sustentável) das duas metrópoles portuguesas, como vamos evitar a desertificação do interior? A relação de causa-efeito entre estes dois fenómenos parece-me insofismável...», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
O que é que se entende por estancar o crescimento urbano e populacional ?
Será a imposição administrativa de um “black-out” ou período de carência administrativo durante o qual não são emitidas licenças de construção?

Se a resposta for afirmativa a medida não atingirá os objectivos de estancamento do crescimento urbano e populacional. Com efeito, a diminuição da oferta de habitação nova não faz diminuir necessariamente o crescimento populacional. Vejamos algumas razões explicativas:

a) Um novo casal, resultante do desdobramento das famílias (por casamento ou união de facto, um dos principais “drivers” da procura no imobiliário), pode optar por ficar a viver em casa dos pais de um deles (num dos concelhos objecto do “black-out” administrativo mencionado), embora em piores condições de privacidade e de bem-estar do que teriam em casa nova no mesmo concelho;

b) Num cenário em que a população portuguesa não cresce, a nível nacional, se forem colocadas no mercado, a preços-características competitivas, as habitações devolutas (nos casos em que a sua requalificação seja economicamente viável), a procura de habitação poderia ser satisfeita com tal tipo de oferta. Resta saber se as características da habitação e do contexto urbanístico (estacionamento, rede viária, espaços públicos, equipamentos) das zonas históricas das cidades satisfazem as actuais necessidades das pessoas, ou se estaremos assim a empurrá-las – através de um cruel centralismo planificador – para uma regressão forçada dos seus níveis de bem-estar.

E muito menos tal medida dará um contributo positivo para evitar a desertificação do interior, fenómeno cujas causas estão na origem (ou seja, lá, no interior). Quanto muito faria aumentar a procura de cidades no estrangeiro por parte dos portugueses que vivem no interior de Portugal e que ambicionam aceder a melhores condições de trabalho e de vida.

Apenas uma nota final. Não me parece que seja necessário estancar o crescimento urbano e populacional das duas metrópoles portuguesas. Temos é de aumentar a qualidade do governo das cidades e das áreas metropolitanas e dos decisores públicos (eleitos, nomeados e assalariados) cuja actuação tem um impacte directo sobre a vida dos cidadãos. O resto será feito pelas pessoas, pela sociedade e pelas empresas.



Sexta-feira, Junho 09, 2006
A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Há evidentes vantagens socio-económicas e ambientais, aliás para toda a Região, em impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica, da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio!», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
Em vez de estancar administrativamente o crescimento urbano e populacional, deixando por satisfazer a procura existente, por que não aumentar a oferta (sobretudo nas áreas mais próximas dos locais de trabalho)?

Isto porque:
- os municípios envolventes da cidade de Lisboa (onde se localiza uma parte considerável da oferta de emprego da Região de Lisboa), não tiveram a capacidade de atrair empresas em número significativo e de lhes proporcionar condições competitivas de localização;
- muitas empresas, por razões culturais e de status social, continuam a preferir exibir uma morada de Lisboa como sede social.

Se a política for a da construção em altura (simulando, por exemplo, o impacte de ter Telheiras maioritariamente com R/c + 4 em vez de R/c + 3), conseguir-se-á “impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica [pela diminuição do número e do tempo de deslocação dos veículos privados dos “commuters”], da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio”, resolvendo todos os constrangimentos assinalados com o mérito adicional de se evitar a punição administrativa da procura.

Mas o que acontece é que de cada vez que se “suspeita” que vem aí um edifício (ou conjunto de edifícios) mais alto é um “ai Jesus” com vários especialistas de cidades (cineastas, actores, músicos, professores universitários, jornalistas, psicólogos, sociólogos, historiadores, arquitectos) a darem logo uma opinião negativa (pois claro!) sobre o assunto.

Se estes especialistas mandassem nos Estados Unidos da América uma cidade como Nova Iorque nunca teria existido. As pessoas vivem pior em Nova Iorque do que nas cidades imaginárias dos nossos especialistas de cidades? Não, vivem pior em Los Angeles, o modelo de cidade que tanto os excita!

(leitor devidamente identificado)